21 outubro 2006

Participando na FESTA

Foto: Ana Luisa - FTSA
Nesse outubro de 2006 estive em Londrina, na FESTA – Festival de Solidariedade, Teologia e Arte, promovido pela Faculdade Teológica Sul Americana.

Além de mim, participaram os grupos Contra Ponto, o grupo Indígena, o artista plástico David Wang, o grupo Acorde Torto e o Coral da FTSA.

Agradeço a Michelline, coordenadora do evento, e o grande amigo Jorge Barro, Diretor da FTSA pelo convite e pela calorosa acolhida. Foi muito bom estar com vocês e caminhar um pouco mais nessa nossa proposta comum.

Sob o sol... sob o amor e a graça


Agosto de 2001. Eu e alguns companheiros da MPC estávamos cercados por centenas de meninos e meninas kalegues. O sol era forte e a seca era grande. O cenário era de pura miséria. Mas eles estavam ali, com seus sorrisos brancos, iluminados, olhando fixamente para nós. Cantávamos canções do amor de Deus para um povo que havia sido violentamente tirado de sua terra, vítimas de uma guerra insana que os feria por mais de duas décadas. Era o Campo de Refugiados de Santa Filomena, há uns 70 km de Lubango, sul de Angola.

De repente a ficha caiu... Minha memória me conduziu a junho de 1985, 16 anos antes. Naquela ocasião ouvi da boca de uma mulher de oração: “Deus vai te levar para lugares que jamais imaginou pisar: terra de um povo sofrido; e você, com um instrumento trespassando o peito, cantará para eles sobre o grande amor de Deus”. Confesso que tudo aquilo me pareceu muito estranho e sombrio, muito distante. Descri e relutei no íntimo contra aquelas palavras que não se encaixavam muito bem dentro de minha preconcebida e preconceituosa teologia.

Agora eu estava ali, vendo o cumprimento de algo anunciado anos e anos antes. Não tive dúvidas: Deus havia me levado para aquele local e ele estava nos usando.

Guardo essa foto com imenso carinho! Ela é a prova de um Deus que age para além dos meus conceitos e preconceitos. Ela é a prova de que Deus me quer onde eu estou, para a Sua glória. Não existe nada que enche mais o meu coração de esperança do que a certeza de que estou pisando os caminhos que Deus traçou para mim. Assim, contando com a graça dEle, chegarei no dia final.

17 outubro 2006

No Mercado de Floripa...



Rapaz... Há quanto tempo a gente não tocava num mercado, numa feira... O pessoal da Presbiteriana na Trindade, em Florianópolis, lançou o desafio e lá fomos todos nós. Banda completa fazendo um som no Mercado Municipal de Floripa. A gente tocando e o povo, inclusive os "bebuns", dançando sorridentes. É claro que estávamos ali prá falar do amor de Deus, e o fizemos. Mas foi tão bom ver o povo feliz movido por aquela música, numa manhã nublada de sábado. Saber que o som deixou o povo mais feliz, mais alegre. Só espero que algo mais que a música tenha ficado. Foi por isso que fomos ali!

A foto é do grande incentivador Andrew King, a quem tenho grande admiração e respeito. Valeu, Andrew.

03 outubro 2006

Beleza em tempos de seca


Orquídea que floresceu num pequizeiro. Foto de Carlinhos Veiga


Moro há dez anos em Brasília. Não tive muitas dificuldades em me adaptar com a vida aqui. É um lugar de muitas oportunidades e muito agradável. No entanto, enfrentei sérios problemas com o clima, principalmente nesse terrível período de seca.

Os primeiros anos foram difíceis: sentia uma dor de cabeça quase que constante, uma secura nos olhos e uma respiração difícil, principalmente à noite. Com o tempo acabei me adaptando ao clima desértico do meio do ano.

Talvez por causa disso eu sempre achasse Brasília feia nessa época. O gramado acinzentado, o ar esfumaçado, as árvores peladas, folhas secas pelo chão. Até que me mudei para o Lago Norte. Acho que aqui, em contato maior com a natureza, aprendi a ver a cidade com outros olhos.

Tudo começou quando num dia pela manhã vi que o pequizeiro do quintal estava diferente. As primeiras flores começavam a surgir, prenúncio de frutos (e que deliciosos frutos...). Depois, no tronco da árvore, vi três lindas orquídeas abertas. Nunca havia prestado atenção no fato de que elas estavam ali, enxertadas no pequizeiro. Essas flores embelezaram tanto o quintal que eu passei a visitá-lo mais vezes que o comum. A partir daí algo como que escamas caíram dos meus olhos, abrindo-me para uma realidade que ainda não havia percebido: a beleza do cerrado no período da seca.

Vi o amarelo cintilante do ipê, contrastando com o cinza ao redor; via as flores naturais multicoloridas se abrindo sorridentes, como que preparando a vida para a primavera que está às portas; senti o gosto doce da amora, da jabuticaba explodindo em sensações incríveis no paladar.

Percebi que nessa época o canto dos pássaros fica ainda mais belo porque o sabiá surge vibrante e embeleza ainda mais a sinfonia da criação, exaltando o nome do seu Criador. E daqui uns dias vêm a cigarra cantado sua canção monotônica: “lá vem a chuva!” As flores transformam-se em frutos; e a vida toma novo colorido e sabor.

Por que eu não havia percebido essa beleza antes? Por que tudo isso tinha ficado oculto aos meus sentidos? Creio que é pela minha limitação de não ver o cuidado de Deus em todos os momentos, mesmos nos períodos de seca, de deserto. A vida é cíclica: passamos por estações e cada uma delas traz suas características. Mas, temos às vezes a tendência de achar que na seca tudo seca. Até o amor de Deus. Olhamos para o lado e parece que a vida foi roubada de nós. Mas, Deus está presente e nos surpreende com novas belezas. Conquanto tudo pareça cinza, o amor de Deus está aí, bem presente, renovando nossas forças e nos despertando para o novo ciclo da vida que está por vir. Ele jamais nos desampara. Os sinais do seu grande amor jamais cessam...