Na minha recente viagem a Olinda tive o enorme privilégio de conhecer pessoalmente o Mestre Salustiano, lenda viva da cultura popular pernambucana. Nascido em 1945, no município da Aliança, aprendeu ainda menino a brincar o maracatu. Recebeu de seu pai a arte de tocar e construir rabecas.
O título de mestre não veio por acaso. Foi um dos maiores dançadores de cavalo-marinho da região, interpretando diversos personagens: arrelequim, dama, galante, contador de toada, Mateus (durante nove anos), recebendo por isso o título de mestre.
Fundou o Maracatu Piaba de Ouro, em 1997, e com esse grupo participou do festival de Cultura Caribeña, em Cuba. É o comandante do cavalo-marinho Boi Matuto, que criou em 1968, e do Mamulengo Alegre.
Influenciou a vida de muita gente como o Siba (leia-se Mestre Ambrósio), Antônio Nóbrega e Chico Science (Nação Zumbi). É tido como a principal influência do movimento Mangue Beat.
Foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1965, e já percorreu com a sua arte a maioria dos estados brasileiros e países como a Bolívia, Cuba, França e Estados Unidos.
Em 1990, recebeu o título de “reconhecido saber” concedido pelo Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e o de comendador da Ordem do Mérito Cultural, em 2001, pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Indicado pela Prefeitura de Olinda, foi escolhido pelo Governo do Estado, através da Lei nº 12.196 de 2 de maio de 2002, como Patrimônio Vivo de Pernanbuco.
Apesar de todo esse histórico Mestre Salu, como é conhecido carinhosamente, é simples e cortês. Quando cheguei em sua casa, às 22h de uma sexta-feira, lá estava ele, assentado numa calçada, olhando para o tempo, sozinho. Nos recebeu muito bem e assim que eu saquei a rabeca que ele mesmo tinha feito, e que eu havia adquirido naquela tarde através de sua esposa, já começou a tocar, extraindo sons incríveis.
Não perdi oportunidade e pedi: “Mestre Salu, você pode me ensinar como se toca?”. Foi uma aula rápida, mas inesquecível. No outro dia ele completou 61 anos de idade com uma festança toda preparada na sua Casa da Rabeca. Fui gentilmente convidado, mas eu tinha que voltar para Brasília. Só mais tarde fiquei sabendo que ele tem freqüentado uma Assembléia de Deus, só não sei se assiduamente.
Mas o compromisso já foi marcado. Numa próxima ida a Olinda vamos tocar juntos rabeca e viola caipira. Agradeço a Deus por pessoas como Mestre Salustiano que fazem da vida algo mais belo.
Um comentário:
Mestre Salu e gente da gente, cidadão de Olinda, cidadão do reino.
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